Guerra entre Rússia e Ucrânia chega aos mil dias sem perspectiva de fim

  • 19/11/2024
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Guerra entre Rússia e Ucrânia chega aos mil dias sem perspectiva de fim

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, aposta em Trump e na diplomacia para pôr fim ao conflito com a Rússia

Foto: Reuters


Oleksandra Matviichuk, diretora do Centro pelas Liberdades Civis, despertou naquele 24 de fevereiro de 2022 por volta das 5h (hora local) com o barulho da campainha de sua casa, em Kiev. "Ainda estava escuro e me perguntei quem poderia ser tão cedo. Enquanto meu marido checou a porta, peguei meu celular e vi dezenas de ligações perdidas. Retornei o último telefonema e foi assim que descobri que os russos tinham lançado uma invasão em larga escala e estavam bombardeando cidades ucranianas", relatou ao Correio. Menos de oito meses depois, a ONG comandada por Matviichuk ganhou o Prêmio Nobel da Paz.

Às vésperas de o conflito entre Rússia e Ucrânia completar mil dias, na próxima quarta-feira (20/11), Matviichuk advertiu: "Esta guerra determinará o destino não apenas de meu país, mas o futuro do mundo livre". Em entrevista a uma rádio ucraniana, o presidente Volodymyr Zelensky afirmou desejar que a paz chegue em 2025 por "meios diplomáticos". "Do nosso lado, temos que fazer todo o possível para que esta guerra termine no próximo ano. Temos que acabar com esta por meios diplomáticos."

Na sexta-feira (15/11), o líder ucraniano depositou esperança de que o conflito se encerre durante o governo do americano Donald Trump. "Não há dúvida de que a guerra terminará antes com as políticas da equipe que irá liderar a Casa Branca. Essa é a abordagem deles, sua promessa à sociedade", disse ao meio de comunicação ucraniano Suspilne.

Para Matviichuk, o conflito envolve não apenas duas nações, mas dois sistemas — o autoritarismo e a democracia. "Eu espero que o governo de Donald Trump aplique o princípio da 'paz através da força' e trabalhe para restaurar o direito internacional. Putin, como todo ditador, compreende apenas a linguagem da força", afirmou, ao citar o presidente eleito dos Estados Unidos.

Professor de política comparada da Universidade de Kyiv-Mohyla, Olexiy Haran avalia que Putin fracassou em seu plano inicial. "Ele queria controlar toda a Ucrânia e transformá-la em um Estado-fantoche ou incluí-la na Rússia. Esse plano entrou em colapso. Em 2022, a Ucrânia liberou metade do território ocupado pelas forças russas", ressaltou, por telefone. De acordo com ele, o apoio da comunidade internacional para Kiev tem sido insuficiente para a liberação do território. "A Rússia controla um quinto do país, mas quer mais. Moscou declarou que cinco áreas da Ucrânia fazem parte da nação russa."

União

Segundo Petro Burkovsky — analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (Kiev) —, nos últimos 997 dias, os ucranianos mantiveram sua independência e testaram um "exército moderno" durante as batalhas. "Nós, ucranianos, nos tornamos mais autossuficientes e mais unidos, enquanto nação", disse ao Correio. "Também ganhamos grande respeito e apreço dos nossos vizinhos europeus. Esses fatores são importantes para a nossa sobrevivência, tanto na guerra, quanto no futuro."

Ao mesmo tempo, ele reconhece que a Ucrânia perdeu 20% do território e pelo menos 100 mil soldados, além de um número possivelmente ainda maior de civis. "Isso é imperdoável. Mesmo depois do fim do conflito, perseguiremos os criminosos de guerra russos, do nível mais baixo ao mais alto, em todo o lado, começando pela própria Rússia", avisou. Burkovsky entende que houve apenas um momento em que a guerra poderia ter chegado ao fim: em 2023, com o motim liderado por Yevgeny Prigozhin, líder do grupo de mercenários Wagner. "Agora, vai depender da escala e do poder da coerção militar e econômica dos EUA. Também do cálculo de Putin de que um confronto direto com Trump terá mais custos e ameaças ao seu poder do que a paz."

"Durante esses mil dias de invasão russa e de resistência ucraniana, houve muitos momentos tristes e terríveis", desabafou o jornalista ucraniano Denys Glushko, morador de Karkhiv. Ele relatou ao Correio que a pior coisa é ver cidades destruídas e escutar o choro das crianças. "Nesses locais, poucos dias antes, o transporte público funcionava e as cafeterias estavam abertas. Hoje, são pilhas de tijolos queimados, e as ruas estão vazias."

Glushko citou o massacre de Bucha, a descoberta de uma cova coletiva em Izium e o ataque russo a um hospital infantil de Kiev como os momentos mais difíceis da guerra. Nem a Rússia nem a Ucrânia informam o número de perdas militares nos combates. No entanto, a imprensa e especialistas estimam o número em várias dezenas de milhares, até mesmo centenas de milhares de mortos.

Justiça

Para Oleksandra Matviichuk, a garantia de justiça para a punição e a reparação de violações dos direitos humanos é uma "tarefa histórica" para os ucranianos. "Os russos cometeram crimes terríveis na Chechênia, na Moldávia, na Síria, no Mali, na Líbia e em outros países. Eles nunca foram punidos por isso. E acreditam que podem fazer o que desejarem", disse.

Ela vê uma chance de obter a justiça e interromper a impunidade experimentada pela Rússia durante décadas. "Temos que criar um tribunal especial de agressão e responsabilizar Putin e outros criminosos de guerra", defendeu a ucraniana, que admite a importância do Nobel da Paz para a ONG que comanda. "Os políticos do mundo não escutavam a voz dos ativistas dos direitos humanos. O Prêmio Nobel da Paz tornou nossa voz visível."


A guerra ganhou um elemento insólito: o reforço de soldados da Coreia do Norte que se uniram ao Exército russo, depois que Putin assinou um acordo de defesa mútua com Pyongyang. A Coreia do Sul, a Ucrânia e o Ocidente afirmam que a Coreia do Norte enviou 10 mil soldados para a Rússia para lutar na Ucrânia.

Fonte: Correio Braziliense


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